A feliz convivência que tive com a inesquecível amiga Maria José Borges Rios (Salia), tornou-se um inesgotável manancial de gratas recordações!
Hoje lembrei-me de uma delas. Um belo dia apareceu em minha residência a dedicada serviçal Maria Canuto e me disse: “A dona Lia está te chamando a casa dela”. Como os três filhos Geraldo, Fred e Marvy estavam estudando em Belo Horizonte, preocupou-me e fui imediatamente à casa da Salia.
Não havia nada de anormal, muito pelo contrário, encontrei minha saudosa amiga com um feliz sorriso nos lábios e foi logo dizendo: “O rádio está anunciando que o filme “O Vento Levou” vai passar no cinema de Oliveira e quero te convidar para irmos assistir juntos este filme tão famoso”. Claro que aceitei o convite, logo eu apaixonado com cinema e Salia continuou dizendo: “já contratei o carro de praça do Zé Lázaro, vamos sair mais cedo porque ele anda muito devagar”.
Tudo combinado lá fomos nós pela estrada de chão e cheia de curvas de nossa saudosa e romântica rodovia. Lá chegando, de longe avistávamos o belo prédio do cinema municipal, com o cartaz anunciando o tão falado “O Vento Levou”.
Dentre os inúmeros protagonistas, lá estavam o astro Clark Gable e a estrela Vivien Leigh, em maravilhosas fotografias para a admiração da seleta plateia Oliveirense. Ainda no adro do belo prédio do cinema, aproximou-se de nós o famoso pintor e cabeleireiro Francoise André, amigo e cabeleireiro da Salia, que foi logo dizendo “Dona Lia, que surpresa ver a senhora aqui esta hora! e este moço, é filho? E a Salia respondeu sorrindo: “ É emprestado, mas é assim mesmo” (risos).
Despedimos do amigo e adentramos ao cinema. Imediatamente, o leão da Metro Goldwyn Mayer, rugiu na tela da casa de espetáculos e surge diante de nós ao som da maravilhosa trilha sonora, A maravilha da,, da Sétima Arte… “E O Vento Levou”.
Eu estava emocionada e percebi que a Salia também. No decorrer do filme, a história se desenrolava e a bela música nos fazia chorar. Salia, vez por outra, enxugava as lágrimas que rolavam pelo seu rosto.
Afinal, não era só nós que a emoção tomou conta, mas a plateia também chorava. Quando surgiu na tela as palavras The Hend (fim), todos enxugaram suas lágrimas. Este filme conquistou várias estatuetas, Oscars, pelo maravilhoso desempenho de todos. Valeu, Salia!
“Menininho de Deus”, era assim que a Salia me chamava, porque fui coroinha no altar de nosso santuário. “Agora, vamos comer alguma coisa. No armazém do Sr. José Lobuond, bem próximo ao cinema, vai chamar o Zé Lázaro, que deve estar dormindo dentro do carro”
Ao entrarmos no chique armazém (bar) do italiano Lo-Buono,, a Salia disse sorrindo: “Vou comer de tudo, porque o Dr. João Jeunon não está vendo!”. Isto, por causa do diabetes que ela padecia. Nossa prezada e saudosa amiga pagou tudo, e dizia: “Vocês são meus convidados!”.
Após o delicioso lanche, pegamos de novo a estrada, rumo a nossa querida Carmo da Mata. Já era madrugada, só o nosso carro trafegando pela velha estrada. De vez em quando, parávamos para tocar as vacas que estavam no caminho.
No caminho o assunto era o filme. Era bom para o Zé Lázaro não cochilar ao volante. Aproximamos de nossa terrinha. Passamos pela ponte de madeira e lá embaixo o Rio Boavista caudaloso serpenteava nossas várzeas!
Era madrugada, Carmo da Mata dormia, só ouvimos o coaxar dos sapos e o cantar dos galos. Amparei a amiga até sua sala, onde eu esperava dedicada a serviçal Maria Canuto. O Sr. Levy dormia. Fui feliz para minha casa. Empurrei com o pé a porta, escorada por uma cadeira, naquela época podia.
E fui dormir feliz por tão belo programa. E os assuntos se prolongaram por muito tempo. A Salia e o filme “E O Vento Levou”, passaram a fazer parte da minha vida. E agora, Gente, O Vento Levou e está levando tudo que me era tão caro. Deus sabe o que faz!
Post Scriptum:
Ofereço esta crônico à minha querida amiga e comadre, Marvy Borges Rios, distinta filha da nossa Salia.