Outono em marcha e as temperaturas já dão sinal de declínio. Uma benção para quem, como eu, não se acostuma às altas temperaturas, sou de outono-inverno. Hoje faz um dia quase frio, chuva e 23° às três da tarde. Dias assim me afetam emocionalmente. Me levam para outro lugar, para sensações antigas de quando era bem pequena e adorava chegar em casa da escola, tomar um banho quente e bem agasalhada, ver a chuva da janela do meu quarto de cortinas azuis, sim as cortinas existiam de fato e deram nome ao meu primeiro livro de poemas.
Nesses dias, chuvosos e frios, gosto de ficar quieta em casa ouvindo músicas (Indie folks e mpb, de preferência), lendo um livro, fazendo algo gostoso na cozinha, sou dessas. Não que não goste de dias claros e brilhantes, mas dias cinzas me dão sensação de acolhimento, aconchego e, invariavelmente, me fazem visitar outros tempos. Não é tristeza, só boas saudades que gosto de ter.
Mas nem só de chuva faz-se o outono, ao contrário, normalmente é uma estação seca, de céus de brigadeiro, temperatura amena que convida à rua. Por aqui não temos muitas, mas adoro aquelas paisagens outonais clássicas, cor sépia, tons terrosos, serapilheira amarela formando tapetes. Tenho certa devoção ao outono, confesso. E para melhorar, nesta estação consigo ver a lua da janela do meu quarto e em algumas noites de insônia, ela ilumina a minha cama. Bem poético!
Essa imagem da lua clareando o quarto na madrugada me remete aos tempos do início da pandemia, quando a ansiedade me tirava o sono e, ao olhar para a lua da minha cama, ficava imaginando o que seria de nós depois que aquilo tudo passasse. Naquele momento cheguei a acreditar que a humanidade sairia daquela batalha melhor, mais consciente de seu lugar na teia da vida, mais solidária às dores ao redor. Infelizmente nada disso se fez verdade e a pandemia hoje parece um pesadelo distante.
Gosto quando consigo parar e perceber as coisas ao redor. O clima e os sentimentos que ele me traz, a beleza das mudanças de estação provocando cores novas no entardecer, coisas pequenas e corriqueiras. A vida nos atropela tanto e o tempo anda passando tão rápido, impedindo o exercício de contemplação. Ao menos de vez em quando, preciso olhar em volta e perceber as sensações que esse entorno me provoca e assim me sentir pertencente ao todo.
Essa crônica é só um convite à pausa, um respiro mais lento e consciente, um olhar atento para a natureza ou para si mesmo. Espero que aceite.
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Jornal A Notícia